Prose of a wrong soul // Prosa de uma alma errada
I was born wrong and grew up wrong. When I spent so much time wishing for the death of others, maybe I just wanted an end to myself.
Little by little I sublimated my hatred (of myself) into music, but there are times that not even music can do sublimation. And that your vapor is not colorless and high like that of water, you are the purple mist that crawls on the bottom of the pan, that intoxicates the boy and explodes if put in contact with fire.
My uneasiness with cemeteries is only a reflection of a fraction of time, of knowing that in X years I will be there degraded without any fun, because dying is no fun, but living is too exhausting. When I see her skating in mud I splash myself with mud too, and when I seek contaminated flowers giving rides to spied vendors I drain myself like a medium with no control over itself. When I play and can't play I feel death in me, and the expression doesn't come from the guitar, the strings, the keys, the beats where else would it come from? I just want to sell all the items I have, all of them, until only a computer and a bed are left, so that I can feel what it is like to have no possessions and be able to feel empty not only inside, but outside as well. If I were to pay the bills I owe I would have to sell my mother's house. Any band project seems so distant and blurry when you are dying inside and out, and my expression of dead eyelids, mouth sealed with bitterness and small breath only prove that I feel an aversion to everything around me. When we danced for ten minutes and I was freed from any bindings of existence I was happy, when I think of music, when I think of bush I don't die, when I think of a trail in the bush I don't die. I have some very good friends scattered around, all over the world, that I don't die. I have a daughter and it is for her that I don't die. If I didn't have her would I be dead? Probably. Does it matter to me? No, I don't think so. And day goes day comes month, all I keep thinking is how serious it is for me to get out of the damn misery of counting pennies to survive the weekend, I can barely eat a dead animal, I can barely take a carbonated glucose, I can barely clog my pancreas with processing, my liver of greasy chocolate, my pores of marble pools, my eyes of wide movie theaters, my teeth of royal threes toothpaste, my tongue of kisses, my beard of razors, my cock of pussy, my soul of peace, my heart of mantras. I can barely think about tomorrow and supposedly think about the project that is a project. Is it a project? Where is the script of this project? Why are all the movements so exhausting? Fierce age passes and passes and runs and you look and are afraid and cry alone in silence amid discontinued pills and unsatisfying drugs and masturbations that don't feed even the thinnest libidinous sinner in a jagged country like this old Brazil. You dream for communal peace and the transformation of society in favor of the human, but you wish for the explosion and the end, to start everything easier, supposedly. I think of Vitor Brauer, I think of Jonathan Tadeu, I think of Kurt Cobain (damn him), I think of you, I think of all the people I have ever touched with my heart, I think of the feverish dreams I have in silence in those short nights of unpaid sleep. I think about my mother and her death, just like my father's death, I think about the death of her family too, and the death of the ex's family too, and I think about the daughter's death, and I think about death itself, and I think that thinking about death is like a cancer installed in my conception. Then I remember that part of that documentary made by a good yogi, who, if he is not a cheat and a charlatan, is a very good person for the world. In that documentary one of the interviewees was reporting that his son was going through the happiest time of his life, where EVERYTHING was amazing, especially the birth of his son. And he says: -Father, I'm scared.
And the father says: "Me too, son.
You don't have to explain why the best moment causes the greatest fear, do you? And what about that ring that was supposed to be dark and lighten as you work and wash dishes? And what about the fake-blonde women all over this planet? And the out-of-tune guitars in the hands of alcoholics who can find nothing, nothing else? What about the inflamed pimples that purge the cheeks of young people like minefields? Diazepam Diazepam, you are a sincere remedy. I count on you now that I am weaning myself off what I assumed to be my cure (and soon realize that there is no cure, and that if perhaps I just control the fear of death without expecting to be happy, I can get far, who knows at least until I am forty-five). Do I have at least eleven years to live? Or will I die being torn apart by a speeding truck and having my skull crushed, shattered and compacted by the precise wheels of a hell of a machine? I will never accept that trucks should exist, I will never accept that Brazil abandoned the railroads, I will never accept that a relationship is not made of complicity, I will never accept that politics is a technology for the benefit of humans. I wish the good scriptwriters would keep working, but they stopped. And who knows, just who knows, I might get jealous of a former friend's brother who now lives in Canada and probably has a very easy life full of supposedly uplifting experiences, while I am here in my small town and with a pathological desire to never leave, stuck like a slave chained to bales of yerba mate. My eyelids fail me, it's almost two. I just want to catch up, because the bills are late enough, and if there was only one wish, it would be: I want to pay all the overdue bills on the planet. Everyone is up to date. The lost and disturbed ones will recover the debt in a short time, but the intelligent or socially inclined ones will benefit. What about me, well, by then I'll be dead anyway.
Português
Nasci errado e cresci errado. Quando passei tanto tempo desejando a morte alheia talvez eu só quisesse um fim para mim.
Pouco a pouco sublimei meu ódio (de mim) em música, mas tem vezes que nem a música é capaz de fazer sublimação. E que seu vapor não é incolor e elevado como o da água, você é a névoa roxa que arrasta-se no fundo da panela, que intoxica o menino e que explode se colocada em contato ao fogo.
Meu mal estar com cemitérios é apenas o reflexo de uma fração de tempo, de saber que em X anos estarei ali degradado sem graça alguma, por que morrer não tem graça alguma, mas viver é demasiado desgastante. Quando vejo-a patinando em lama eu me espirro de barro também, e quando busco flores contaminadas dando carona a vendedores espiados eu me dreno como um médium sem controle sobre si mesmo. Quando eu toco e não consigo tocar eu sinto a morte em mim, e a expressão não vem da guitarra, das cordas, das teclas, das batidas de onde mais viria? Eu só quero vender todos os itens que tenho, todos, até sobrar apenas um computador e uma cama, para que eu sinta como é não ter bens e poder sentir-se vazio não apenas por dentro, mas por fora também. Se fosse pra eu pagar as contas que devo eu teria que vender a casa de minha mãe. Qualquer projeto de banda parece tão distante e turvo quando se está morrendo por dentro e por fora, e minha expressão de pálpebras mortas, boca selada pela amargura e a respiração pequena só comprovam que sinto-me um avesso ao todo que me rodeia. Quando dançamos por dez minutos e me libertei de qualquer amarra da existência eu fui feliz, quando penso em música, quando penso em mato eu não morro, quando penso em trilha no mato eu não morro. Eu tenho alguns amigos tão bons espalhados por aí, pelo mundo afora, que eu não morro. Eu tenho uma filha e é por ela que eu não morro. Se eu não a tivesse eu estaria morto? Provavelmente. E isso me importa? Não, creio que não. E vai dia vem mês, tudo que sigo pensando é quão sério é para mim sair da maldita miséria da contagem de centavos para sobreviver ao fim de semana, mal posso comer um animal morto, mal posso tomar uma glicose carbonada, mal posso entupir meu pâncreas de processamentos, meu fígado de chocolate gorduroso, meus poros de piscinas de mármore, meus olhos de cinemas largíssimos, meus dentes de pastas de dente de trintas reais, minha lingua de beijos, minha barba de navalha, meu pau de buceta, minha alma de paz, meu coração de mantras. Mal consigo pensar no amanhã e supostamente penso no projeto que é um projeto. É um projeto? Onde anda o roteiro desse projeto? Por que tão exaustivo t o d o s os movimentos? A idade feroz passa e passa e corre e você olha e tem medo e chora sozinho em silêncio em meio a comprimidos descontinuados a insatisfatórias drogas e a masturbações que não alimentam nem o mais magro libidinoso pecador de um país recortado tal como esse velho Brasil. Você sonha pela paz comunitária e a transformação da sociedade em prol do humano, mas deseja a explosão e o fim, pra começar tudo mais fácil, supostamente. Eu penso em Vitor Brauer, eu penso em Jonathan Tadeu, eu penso em Kurt Cobain (maldito seja), penso em você, penso em todas as pessoas que já toquei com meu coração, penso nos sonhos febris que tenho em silêncio nessas curtas noites de sono mal pago. Penso em minha mãe e em sua morte, tal como a morte de meu pai, penso na morte de sua família também, e na morte da família da ex também, e penso na morte da filha, e penso na própria morte e penso que pensar na morte é como um câncer instalado em minha concepção. Lembro então daquele trecho daquele documentário feito por um bom yogue, que se não é traiçoeiro e charlatão, é uma pessoa muito boa para o mundo. Nesse documentário um dos entrevistados estava relatando que seu filho passava pelo momento mais feliz de sua vida, onde TUDO estava incrível, principalmente o nascimento de seu filho. E ele diz: -Pai, eu to com medo.
E o pai diz:- Eu também filho.
Não precisa explicar por que o melhor momento causa o maior medo, não é mesmo? E aquela aliança que era pra ficar escura e clareio conforme você trabalha e lava louça? E as mulheres falsa-louras de todo esse planeta? E as guitarras desafinadas na mão de alcóolatras que não encontram nada, nada mais? E as espinhas inflamadas que purulam as bochechas de jovens como campos minados? Diazepam Diazepam, você é um remédio sincero. Conto contigo agora que estou desmamando-me daquilo que supus ser minha cura (e logo percebo que não existe cura, e que se talvez eu apenas controlar o medo da morte sem esperar ser feliz, eu posso chegar longe, quem sabe ao menos até os quarenta e cinco). Tenho pelo menos onze anos de vida? Ou morrerei sendo destroçado por uma carreta em alta velocidade e tendo o crânio esmagado, estilhaçado e compactado por rodas precisas de uma máquina dos infernos? Eu jamais vou aceitar que caminhões deveriam existir, eu jamais vou aceitar que o Brasil abandonou as ferrovias, jamais aceitarei que um relacionamento não seja feito de cumplicidade, jamais vou aceitar que a política é uma tecnologia em prol dos humanos. Queria que os roteiristas bons continuassem a trabalhar, mas eles pararam. E quem sabe, apenas quem sabe, eu fique com ciúmes da irmão de um ex amigo que agora mora no Canadá e tem uma vida provavelmente muito fácil e repleta de supostas experiências engrandecedoras, enquanto eu estou aqui em minha pequena cidade e com um desejo patológico de jamais sair daqui, preso como um escravo acorrentado aos fardos de erva-mate. As pálpebras falham, já é quase duas. Eu só quero tirar o atraso, por que de atraso já bastam as contas, e se fosse pra ter um desejo só, seria: Quero pagar todas as contas atrasadas do planeta. Todos estão em dia. Os perdidos e perturbados vão recuperar a dívida em pouco tempo, mas os inteligentes ou propícios em relação ao social, irão se beneficiar. E eu? Bom, até lá eu já estarei morto mesmo.
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That was a lot of reading. Prose is hard. I saw some touches in there.