Sensacionalismo, desinformação e a importância do jornalismo local
Sempre me incomodou bastante jornalistas que comentam e dão opinião pessoal sobre as reportagens. Um dos meus primeiros textos, ainda na faculdade de jornalismo, tratava justamente da cobertura tendenciosa relacionando ataques terroristas à religião islâmica, sendo que o extremismo pode surgir em qualquer crença.
Agora, me chama a atenção também como muitos jornalistas desconhecem por completo a realidade de outras regiões e, mesmo assim, insistem em abordar um assunto que desconhecem.
Atualmente, moro na região das Hortênsias, área onde se localizam as cidades de Gramado e Canela na Serra Gaúcha, e a quantidade de desinformação na mídia nacional sobre a região é assustadora.
Estava assistindo a uma reportagem da CNN Brasil e a jornalista cometeu meia dúzia de erros factuais sobre a cidade. Algumas vezes, parece que simplesmente inventaram metade do texto, sem compromisso algum com a realidade.
Qualquer morador ou até mesmo alguém que já tenha circulado pelo bairros daqui desmentiria boa parte do que foi abordado na reportagem. Primeiro, ninguém saiu às pressas porque o desmoronamento não foi repentino, como pode ser verificado na reportagem local do dia 2 de maio.
Depois, não se trata da área nobre da cidade, que se localiza no lado oposto, o bairro Piratini é um dos bairros populares, onde moram boa parte dos trabalhadores dos hotéis e restaurantes daqui. Também não fica próximo à Rua Torta, atração turística que também se localiza do outro lado da cidade, em frente à Praça das Etnias.
A maior parte do Rio Grande do Sul faz parte do bioma Pampa, planície coberta por campos que abrange dois terços do território gaúcho. Apenas a área da Serra Gaúcha e Campos de Cima da Serra correspondem ao planalto que a jornalista se referiu na reportagem.
Também é incorreto afirmar que moradores de Gramado foram afetados pelas enchentes, já que não há rio próximo à cidade. Temos apenas o rio Caí que vem São Francisco de Paula, passa pelo interior de Canela, na região do Caracol, e segue para Nova Petrópolis pelo interior em um vale muito abaixo de onde ficam estas cidades, sem risco algum de inundação.
A desocupação das casas ocorreu no dia 2 de maio, a notícia saiu na mídia nacional apenas no dia 13 de maio, e até mesmo jornais de Porto Alegre, como foi o caso do jornal O Sul, informaram que os moradores saíram de casa às pressas.
No texto, há várias referências às informações equivocadas da reportagem da CNN Brasil, mas vai além acrescentando que o bairro estaria isolado, coisa que nunca aconteceu. Há, pelo menos, outros três acessos que podem ser feitos pela rua Tristão de Oliveira, pela rua Getúlio Vargas e pela rua Prefeito Nelson Dinnebier.
Agora, a reportagem do UOL esteve na cidade e acrescentou mais desinformação ao reafirmar que o bairro teria sido isolado e que isso seria uma preocupação para o turismo local.
Novamente, não procede a informação de que o bairro está isolado. Em nenhum momento, os moradores do bairro Piratini deixaram de ter acesso às demais ruas do bairro. Apenas a parte mais alta, especificamente nas ruas Henrique Bertoluci e Guilherme Dal Ri, tiveram o acesso interditado no bairro.
Com relação ao turismo, esta área nada tem a ver com as dificuldades que a cidade tem enfrentado para receber visitantes. É possível chegar a Gramado a partir de Santa Catarina, Caxias do Sul e até mesmo Porto Alegre.
No momento, a principal dificuldade enfrentada pela região são os cancelamentos dos voos que chegariam através do Aeroporto Internacional Salgado Filho, que está alagado e não tem previsão para receber voos novamente.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima!
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O tal do jornalismo opinativo. No Jornal Hoje, da Globo, às 14hrs, chega a ser pedante os comentários do apresentador após qualquer matéria. Eu acho que o jornalismo independente, descentralizado, localizado vai substituir as grandes mídias nas próximas décadas. Vai ser muito fácil consumir um vídeo gravado in loco, de fonte primária, gravado de um celular; já vimos isso na cobertura da enchente com os voluntários gravando as ações deles mesmos. Vai ser mais ou menos como os jornalecos impressos de décadas passadas, só que muito mais facilmente distribuidos.
Pois é, tchê! Passa a impressão de que a cobertura nacional nem se importa com a verificação dos fatos, fazem uma reportagem rasa, sem o mínimo de pesquisa e era isso. Aí a gente, aqui da cidade, que precisa ficar desmentindo as reportagens depois. Basta acessar qualquer reportagem local para verificar a péssima qualidade do jornalismo apressado e sensacionalista da cobertura nacional.